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ESTRANHA CERTEZA

Que estranho ter pai doente
Assim de hora pra outra
Dar banho, limpar o corpo
Dormir cortado no tempo
Que logo não faz sentido
Ele se perde nos dias
E eu perdida nas horas
Será que dorme essa noite?
Será que foi tudo embora?

O pensamento bagunçado
Que ama e cospe no prato
Arremessa tudo que vê
E logo conta outra história
Se lembra dos pagamentos
Manda e desmanda no vento
Vem raiva, espanto e tormento
Os outros que não entendem
“São burros, que tonta gente!”
Transfere a raiva e revida
Uma agressão inventada
Uma noite mal dormida

Que estranho é dar de comer
Aquele que briga comigo
E ao mesmo tempo é abrigo
Um toque, um cafuné
Um pedido de desculpas
Um beijo e muito carinho
Entre trancos e barrancos
Ele também já foi ninho

Sempre foi rei de si mesmo
Viu pouco além do umbigo
Mas tem coração generoso
Só não fez muito sentido
Vocês não sabem do intelecto
Que tinha tal indivíduo
Não errava uma conta
E a explicação sempre pronta

A vida é sempre supressa
Um dia de cada vez
Ele trilhou seu caminho
Foi responsável por si
Eu sempre me protegi
Um tira e põe de afeto
Que corria peito aberto
Arrebentava porteira
E se julgava correto

Eu sempre amei esse homem
É sempre assim que vai ser
Ser grande tem dessas coisas
De gostar sem limitar
De viver de perdoar


Luiza Mattos 
Rio Pardo 03/01/2021

 

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